A nível nacional:
- A abstenção foi a grande vencedora nestas eleições com 45,49%, mais 2,49% do que em 2015 (43%), o que corresponde a menos 287.639 votos (passou de 5.380.451 votantes em 2015 para 5.092.812 votantes em 2019).
- A nível partidário o PS foi o grande vencedor, embora sem maioria absoluta, recolhendo 36,65% dos eleitores (mais 124.395 votos) e mais 20 deputados, totalizando 106 deputados (ou 108 com o apuramento final).
- O PAN também saiu vitorioso com 3,28%, passando de 74.752 para 166.854 votos (mais 92.102 votos), e de 1 para 4 deputados.
- A grande derrotada foi a direita PSD/CDS, passando de 36,83% para 32,15%, o que corresponde a menos 344.361 votos (em conjunto) e com apenas 82 deputados (menos 22 que em 2015). Especialmente para o CDS a derrota foi demolidora, retornando ao partido do táxi, com apenas 4,25% e 5 deputados (tinha 19).
- Outra grande derrotada do dia 6 de outubro foi a CDU, com 6,46%, passando de 444.955 para 329.117 votos (menos 115.838) e de 17 para 12 deputados (perdeu 5).
- Também cantaram vitória o extremista de direita CHEGA com 1,30% (66.448 votos), o ultraliberal conservador Iniciativa Liberal com 1,29% (65.545 votos) e o social-democrata Livre, com 1,09% (55.660 votos), e elegendo 1 deputado cada. Um dos aspetos mais preocupantes é a chegada da extrema-direita ao Parlamento, tendo obtido resultados expressivos na capital, no Alentejo e no Algarve.
- Quanto aos outros pequenos partidos os votos foram pouco expressivos, sendo relegados para a irrelevância, a começar pela Aliança de Santana Lopes, um dos beneficiados do sistema desde longa data. Praticamente desapareceram: PNR, PDR de Marinho e Pinto, PTP do Coelho, MAS, MRPP, NC, RIR do Tino, MPT, PURP e PPM.
- No que se refere ao Bloco de Esquerda confirma-se como a 3.ª força política a nível nacional, mas não cresce. Resistiu à onda PS e ao PAN, obtendo 9.67% (menos 0,55%) e perdendo cerca de 57 mil votos (passou de 549.878 para 492.507). Obteve os mesmos 19 deputados (perdeu 1 no Porto e 1 na Madeira, mas em compensação ganhou mais 1 em Aveiro e mais 1 em Braga).
- Vejamos mais em pormenor a votação do Bloco por distritos: em Lisboa desceu 1,18% (menos 18.494 votos); no Porto desceu 1,02% (menos 12.401 votos); em Setúbal baixou 0,94% (menos 7.413 votos); em Faro desceu 1,82% (menos 5.667 votos); na Madeira baixou 5,42% (menos 6.536 votos); em Santarém desceu 0,54% (menos 3.348 votos); em Portalegre baixou 1,10% (menos 1.276 votos); em Leiria desceu 0.30% (menos 2.109 votos). Em alguns distritos o Bloco subiu em percentagem, mas baixou em número de votos relativamente a 2015: em Aveiro subiu de 9,60% para 9,96% (mais 0,36%), ganhou mais 1 deputado, mas perdeu 259 votos; em Braga subiu de 8,80% para 8,88% (mais 0,08%), ganhou mais 1 deputado, mas perdeu 414 votos; em Évora subiu de 8,64% para 8,95% (mais 0,31%), mas baixou 688 votos; nos Açores subiu de 7,81% para 7,97% (mais 0,16%), mas baixou 669 votos; na Guarda subiu de 7,42% para 7,81% (mais 0,39%), mas desceu 371 votos; em Beja subiu de 8,20% para 9,08% (mais 0,88%), mas desceu 272 votos; em Bragança subiu de 5,54% para 6,03% (mais 0,49%), mas desceu 25 votos; em Castelo Branco subiu de 10,03% para 11,05% (mais 1,02%), mas baixou 98 votos. Onde o Bloco subiu em percentagem e em votos foi: em Coimbra, que subiu 1,29% e mais 1.028 votos; em Viseu, com mais 1,14% e mais 1.140 votos; em Viana do Castelo com mais 0,51% e mais 95 votos; em Vila Real com mais 0,88% e mais 371 votos. Desta forma, os ganhos de cerca de 2.600 votos atenuaram as perdas de 60.000 votos, traduzindo-se na perda total nacional dos tais 57.400 votos.
- De um modo geral, as maiores quebras do Bloco verificaram-se nos distritos e localidades onde houve um maior crescimento do PAN, do PS e em menor grau do Livre. O Bloco também perdeu votos para a abstenção. Em termos eleitorais, a geringonça não beneficiou o Bloco de Esquerda e terá penalizado de forma substancial a CDU. O PS, como partido do governo, acabou por capitalizar e reforçar-se com as medidas positivas do governo e da Assembleia da República, incluindo as medidas propostas pelo Bloco, PCP e Verdes. No entanto, é preciso ter em conta que o PS só obteve 37% de cerca de 50% por eleitorado do país. Ou seja, a esmagadora maioria dos eleitores absteve-se, votou nos outros partidos e votou branco e nulo. Logo, a esmagadora maioria dos portugueses não está com o PS e nem com o governo – cerca de 5 milhões.
Os resultados no Algarve:
- O Algarve, como 12,31%, voltou a confirmar a melhor percentagem do Bloco por distrito, ficando 2,64% acima do obtido a nível nacional (9,67%). Nas eleições europeias anteriores o distrito de Coimbra (13,01%) tinha destronado o de Faro (12,9%) por apenas escassas 0,11%. Os resultados eleitorais obtidos pelo Bloco por distrito são os seguintes: 1.º Faro – 12,31%; 2.º Setúbal – 12,11%; 3.º Coimbra – 11,18%; 4.º Castelo Branco – 11,05%; 5.º Santarém – 10,22%; 6.º Porto – 10,12%; 7.º Aveiro – 9,96%; 8.º Lisboa – 9,71%; 9.º Leiria – 9,36%; 10.º Évora – 8,95%; 11.º Braga – 8,88%; 12.º Viana do Castelo – 8,47%; 13.º Beja – 8,20%; 14.º Portalegre – 8,10%; 15.º Açores – 7,97%; 16.º Viseu – 7,86%; 17.º Guarda – 7,81%; 18.º Vila Real – 6,06%; 19.º Bragança – 6,03%; 20.º Madeira – 5,24%.
- A nível nacional, nos 14 concelhos que obtiveram os melhores resultados superiores a 13%, o Algarve comporta 5 desses concelhos: 1.º - Condeixa A Nova (Coimbra) – 15,44%; 2.º Sines (Setúbal) – 14,94%; 3.º Portimão – 14,67%; 4.º Marinha Grande (Leiria) – 14,40%; 5.º Olhão – 14,02%; 6.º Torres Novas (Santarém) – 14,01%; 7.º Entroncamento (Santarém) – 13,96%; 8.º Covilhã (Castelo Branco) – 13,92%; 9.º Lagos – 13,56%; 10.º Abrantes (Santarém) – 13,44%; 11.º Setúbal – 13,44%; 12.º Vila Real de Santo António – 13,24%; 13.º Nazaré (Leiria) – 13,16%; 14.º Faro – 13,05%.
- No que concerne ao Algarve, que passou de 14,13% (26.922 votos) para 12,31% (21.255 votos), ou seja menos 1,82% (5.667 votos), temos os seguintes resultados por concelho: 1.º Portimão – 14,67%, com 2.657 votos (menos 1,54% e 666 votos do que em 2015); 2.º Olhão – 14,02%, com 2.246 votos (menos 1,90% e 649 votos); 3.º Lagos – 13,56%, com 1.441 votos (menos 2,45% e 504 votos); 4.º Vila Real de Santo António – 13,24%, com 901 votos (menos 1,81% e 333 votos); 5.º Faro – 13,05%, com 3.732 votos (menos 0,48% e 417 votos); 6.º Lagoa – 12,44%, com 1.097 votos (menos 3,55% e 479 votos); 7.º Tavira – 12,42%, com 1.307 votos (menos 1,69% e 342 votos); 8.º Vila do Bispo – 11,99%, com 219 votos (menos 0,88% e 57 votos); 9.º Silves – 11,65%, com 1.661 votos (menos 1,77% e 476 votos; 10.º S. Brás de Alportel – 11,30%, com 512 votos (menos 2,36% e 141 votos); 11.º Albufeira – 11,16%, com 1.570 votos (menos 2,72% e 494 votos); 12.º Aljezur – 10.92%, com 229 votos (menos 0,27% e 26 votos); 13.º Castro Marim – 10,58%, com 285 votos (menos 2,42% e 122 votos); 14.º Monchique – 10,37%, com 294 votos (menos 1,39% e 83 votos); 15.º Loulé – 9,53%, com 2.418 votos (menos 2,39% e 875 votos); 16.º Alcoutim – 5,65%, com 76 votos (com mais 0,58% embora com menos 3 votos do que em 2015).
- A nível de freguesias na região, há a destacar aquelas cujas descidas foram superiores a 2%, em relação a 2015: Estômbar e Parchal – 4,82%; Santa Luzia – 4,50%; Pechão – 3,95%; Lagoa e Carvoeiro – 3,61%; Algoz e Tunes – 3,72%; Quarteira – 3,51%; Odiáxere – 3,47%; Paderne – 3,49%; Altura – 3,39%; Albufeira e Olhos de Água – 3,30%; Vila do Bispo e Raposeira – 3,26%; Conceição e Estoi – 2,99%; Conceição e Cabanas – 2,86%; Almancil – 2,74%; Salir – 2,70%; Silves – 2,68%; Castro Marim – 2,55%; Bensafrim e Barão de S. João – 2,43%; Loulé (S. Sebastião) – 2,41%; Vila Nova de Cacela – 2,41%; S. Brás de Alportel – 2,36%; Alte – 2,23%; Sagres – 2,17%.
- Temos algumas freguesias, embora poucas, cujos resultados subiram, relativamente a 2015: Barão de S. Miguel, com 18,90% - mais 4,61% (subiu de 21 para 31 votos – mais 10 votos); Santa Bárbara de Nexe, com 12,25% - mais 3,07% (subiu de 148 para 177 votos – mais 29 votos); S. Marcos da Serra, com 10, 02% - mais 3,23% (subiu de 44 para 49 votos – mais 5 votos); Alcoutim e Pereiro, com 7,77% - mais 2,12% (subiu de 33 para 41 votos – mais 8 votos); Alferce, com 8,79% - mais 2,03% (subiu de 14 para 16 votos – mais 2 votos); Budens, com 15,02% - mais 1,31% (subiu em percentagem, mas desceu 5 votos, de 78 para 73); Alcantarilha e Pera, com 11,77% - mais 0,15% (embora subisse em percentagem, desceu 12 votos, passando de 227 para 215); Odeleite, com 5,12% - mais 0,03% (subiu em percentagem, mas desceu 4 votos, passando de 19 para 15); Bordeira, com 6,52% - mais 0,03% (subiu em percentagem, mas desceu 1 voto, passando de 10 para 9). São pequenas freguesias e é difícil avaliar as causas do aumento do Bloco nas mesmas, o que se deverá a questões de natureza específica.
- O que podemos constatar é que o Algarve continua a manter cerca de 3% acima da média nacional bloquista. Por outro lado, cerca de metade dos concelhos tiveram uma descida superior à média regional de 1,82%, onde sobressai uma maior força do PS, há uma maior tendência para a bipolarização e/ou há um maior crescimento do PAN (Lagoa, Albufeira, Lagos, Castro Marim, Loulé, S. Brás de Alportel e Olhão). Também, salvo raras exceções, os resultados apresentam-se melhores a nível regional nos concelhos onde o Bloco se encontra organizado a nível local, daí a importância de se reforçar este trabalho e criar organização nos locais onde não existe.
- Ainda sobre a análise eleitoral na região, há ainda a destacar o seguinte: a abstenção revelou-se muito superior à média nacional, atingindo no Algarve 54,17%, quando em 2015 tinha sido 48,62% (portanto mais 5,59%). Ou seja, agora votaram 190.484 eleitores, menos 17.785 em comparação com 2015 (tinham votado 172.699). Concelhos há em que os abstencionistas rondaram próximo dos 60%, com destaque para Albufeira, Loulé, Olhão e Vila Real de Santo António. Quanto aos votos brancos e nulos subiram de 7.365 (3,87%) para 7.969 (4,62%). É de salientar que os eleitores inscritos no Algarve subiram 6.037 (370.764 em 2015 para 376.801 em 2019).
- O PS, embora tenha vencido as eleições com 36,75% e conquistado mais 1 deputado (à CDU), ficando com 5 em 9 deputados, apenas conseguiu mais 1.047 votos, passando de 62.422 para 63.469 votos (mais 3,98%). Tratou-se de uma vitória relativa e muito longe de uma vitória retumbante, como querem fazer crer.
- Já o PAN obteve mais 4.455 votos, subindo de 3.783 (1,99%) para 8.238 votos (4,77%), mais que duplicando de votação.
- O PSD/CDS passa de 59.950 votos (31,47%) para 45.088 votos (26,11%), o que dá menos 14.892 votos (5,36%). O CDS ficou apenas com 6.572 votos (3,81%) e o PSD com 38.516 votos (22,30%). O grande derrotado foi o CDS que perdeu o deputado para o PSD. E a derrota do PSD foi atenuada com a conquista do deputado ao CDS, passando de 2 para 3 deputados.
- A CDU também acabou por ser uma grande derrotada na região ao perder o seu deputado para o PS, passando de 16.539 votos (8,68%) para 12.180 (7,05%), descendo assim 4.359 votos (menos 1,63%).
- Quanto aos pequenos partidos que obtiveram resultados superiores a 1.000 votos, há a assinalar o CHEGA com 3.690 (2,14%), o Livre com 1.704 (0,99%), o Iniciativa Liberal com 1.424 (0,82%), o Aliança com 1.310 (0,76%) e o RIR com 1.035 votos (0,60%).
- Como reflexões finais há a considerar o seguinte: com as eleições o PS surge reforçado no Algarve (sem embandeirar em arco). É preciso ter em conta que o PS venceu as eleições na região com 36,8%, mas apenas de 46% do eleitorado algarvio. A esmagadora maioria dos eleitores preferiu a abstenção, votou branco e nulo e depositou o voto nas outras forças políticas. Portanto a maioria social do Algarve não está com o PS, o seu principal calcanhar de Aquiles. O PAN também saiu vitorioso, embora não elegendo qualquer deputado. O PSD também foi derrotado, embora a sua queda acabasse por ficar mitigada pela conquista de mais 1 deputado. Mas as derrotas estrondosas acabaram por bater à porta do CDS e da CDU, com a perda dos seus deputados. Há que tomar atenção ao avanço da extrema-direita do André Ventura, pois obteve resultados expressivos na região. A grande massa abstencionista, vivendo com maiores dificuldades, desiludida e até revoltada, poderá vir a ser o grande alimento do CHEGA no futuro próximo.
- O fenómeno geringonça reforçou o PS, não contribuiu para o avanço eleitoral do Bloco de Esquerda e penalizou duramente a CDU no Algarve. As maiores descidas do Bloco verificam-se, de um modo geral, onde há maiores subidas do PAN e também do PS. O Bloco também perdeu para a abstenção.
- Não obstante ter havido uma pequena tendência de descida de votos a nível nacional (mas manteve-se o mesmo número de deputados, o que já é uma vitória, embora relativa), era perfeitamente possível o Bloco ter conquistado no Algarve mais 1 deputada – bastava ter tido mais 4.133 votos (mais 2,4%). Ou seja, em relação a 2015, bastava ter subido uns escassos 0,58% (14,13% em 2015 mais 0,58%, o que daria 14,71% e 2 deputados). Apesar de tudo, verificou-se uma vitória do Bloco no Algarve (embora relativa), pois o grande objetivo era manter a representação parlamentar regional (não se verificou o reforço da votação).
- Caso o Bloco de Esquerda tivesse conseguido, por exemplo, eliminar as portagens na Via do Infante, uma das suas grandes bandeiras de luta no Algarve, certamente teria conseguido os 2 deputados. António Costa e o PS sabiam disto, daí nunca terem cedido nesta matéria. A nível central devia ter havido uma maior pressão para a abolição das portagens no Algarve e hoje a situação seria bem diferente. Imagine-se um Grupo Parlamentar bloquista com 20 deputados!
- No decorrer da pré-campanha e campanha eleitorais a candidatura bloquista e mais um conjunto de camaradas das concelhias participaram em diversas visitas a entidades e ações na região e nas próprias concelhias, com distribuição de jornais e contacto com as populações. No entanto, por diferentes motivos, em particular devido à ocupação profissional, nem todos os candidatos participaram, ou participaram pouco, o mesmo acontecendo com a maioria dos aderentes bloquistas do Algarve. Devia ter havido mais contacto pessoal com os eleitores. Também não foi rentabilizado em termos mediáticos a mais valia que representou o mandatário distrital, o prof. Alberto Melo. Verificaram-se diversas lacunas e falhas a nível logístico e no âmbito da frente da informação e comunicação. Esta última frente, tão vital nos tempos que correm, não se compadece com amadorismos e com medidas de última hora.
- Com as eleições de 6 de outubro a esquerda ficou mais fraca no Algarve. O Bloco, ao manter a sua representação parlamentar, surge como o grande referencial das aspirações, reivindicações e lutas dos algarvios, apresenta-se como a principal força de esquerda na região. A nossa principal bússola assenta nos programas nacional e regional, que se complementam. Acabada a geringonça, por vontade do PS e do PCP, o Bloco nada terá a temer, liderando a oposição e mantendo o seu rumo socialista, com coragem e determinação – naturalmente, com todos e sem esquecer as convergências possíveis à esquerda.